enigmas2_credito_alessandrocosta

O projeto da Fundação Vera Chaves Barcellos com financiamento do Rede Nacional Funarte Artes Visuais promove encontro com entrada franca

Encerra a visitação no dia 23 de maio no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica a exposição Enigmas, de Vera Chaves Barcellos. Para finalizar a temporada da mostra promovida pela FVCB, o público poderá participar de um encontro de Vera com o crítico, curador e historiador Ivair Reinaldim e a crítica e curadora Glória Ferreira no dia 22 às 18h30, com entrada franca. A data também marca o lançamento da publicação da exposição, que será distribuída gratuitamente aos participantes da atividade.

A presente exposição, atualmente exibida no Rio de Janeiro, é uma releitura da mostra originalmente apresentada na Galeria Artual, em Barcelona em 1996. Igualmente, marcou a abertura da Fundação Vera Chaves Barcellos em 2005, em Porto Alegre.

Formada por fotografias de primatas, e a sua manipulação, um alfabeto grego esculpido em sal, em caixas de luz, pequenos “sudários” (pele de vison coladas a telas pintadas), pequenos fósseis de peixes em uma vitrine e, em um salto de tempo, fotos de uma galáxia do telescópio Hubble. A instalação culmina na contravertida imagem da noiva primata, questionando de forma irônica a efetividade do casamento do animal-homem com a cultura.

Para o curador Bernardo José de Souza, Enigmas resgata questões ontológicas que jamais deixaram de despertar a curiosidade do homem, e fazer avançar o conhecimento científico. “Vera Chaves Barcellos investiga a natureza humana e, por consequência, a origem da vida”.

 

Enigmas

Período da exposição: 07 de março até 23 de maio de 2015

Encontro com Vera Chaves Barcellos, Ivair Reinaldim e Glória Ferreira: 22 de maio, às 18h30, com entrada franca. Na data também ocorre o lançamento da publicação da exposição

Galerias 1 e 2 (térreo) | Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica

Rua Luís de Camões – Centro | Rio de Janeiro – RJ, 20060-030

Telefone (21) 2232-4213/2242-1012.

Enigmas é um projeto da Fundação Vera Chaves Barcellos, viabilizado através de recursos obtidos do programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais.

 

Saiba Mais

Enigmas – por Bernardo José de Souza

A partir de uma série de elementos visuais que nos fornecem pistas sobre as questões ontológicas que jamais deixaram de despertar a curiosidade do homem, e fazer avançar o conhecimento científico, Vera Chaves Barcellos investiga a natureza humana e, por consequência, a origem da vida. Construída como uma espécie de laboratório, esta instalação composta por imagens, fósseis, pedaços de pele e caixas de sal, lança o público em um universo tão familiar quanto intrigante, confrontando-o com o desconhecido, mas também com o reconhecível.

Fotografias de primatas contemplativos, aparentemente confortáveis em suas celas num zoológico, produzem um incômodo sentimento de empatia com esta espécie ancestral tão semelhante à nossa ao ponto de recuperarmos, ainda que inadvertidamente, a noção de sermos todos animais – muito embora nós dotados de uma inteligência transcendente. Entretanto a faculdade de pensar que, em tese, nos permitiria compreender a complexidade do mundo e das coisas de maneira holística, aparta a humanidade dos demais seres vivos, gerando uma cisão entre cultura e natureza absolutamente deletéria à manutenção da vida; esta consiste em uma das principais questões a se impor à agenda contemporânea nesta era do antropoceno, quando o homem impacta o ecossistema de forma tão dramática ao ponto de rivalizar com as sucessivas mudanças de ordem natural e geológica ocorridas em nosso passado remoto.

Se a tipologia de peles de vison (caçados, abatidos?) dispostas na parede concorre com os resíduos de sal que formam um alfabeto grego nas caixas dispostas pelo chão, aludindo assim não só à selvageria de nossa relação com o reino animal, mas também à esfera do conhecimento acumulado ao longo da história, é, no entanto, a imagem de uma primata, vestindo véu e grinalda, que sintetiza a condição humana. Somos os mesmos, mas também somos o outro.

A relação com a alteridade segue profundamente mal resolvida em nossa espécie, em que pese nosso esforço coletivo para superar querelas filosóficas e científicas quanto à essência humana, quanto às faculdades humanistas e quanto a esta centelha criativa, por nós tão celebrada, que nos distingue no cosmos de toda e qualquer forma de vida da qual se tem notícia.

A imagem difusa da galáxia M100, registrada pelo telescópio Hubble, e publicada pela Associated Press, nos dá a dimensão do universo, mas também a escala e a estatura do homem.  O céu seria o limite? Mas há limites para a engenhosidade humana, tanto na ciência quanto na ficção? Não seriam a vida e a própria ciência formas de ficção?

Representamos o mundo e, apenas assim, dele depreendemos sentido. Somente deste modo fomos capazes de articular a linguagem, ela própria um instrumento de limitado alcance face à complexidade do mundo.

Em seu processo de criação intuitivo, Vera Chaves Barcellos parece ignorar a busca pela resposta última, pelo elo perdido, assim descartando o evolucionismo e mesmo o misticismo para nos demandar ontologicamente, sempre a partir da linguagem: que coisa é essa que chamamos arte?

Sobre a FVCB – http://fvcb.com.br/

A Fundação Vera Chaves Barcellos – FVCB – é uma entidade cultural privada e sem fins lucrativos, que tem como missão a preservação, pesquisa e difusão da obra da artista Vera Chaves Barcellos, assim como o incentivo à criação artística e à investigação da arte contemporânea. Entre as metas da instituição estão a realização de uma programação regular de exposições, o estímulo à pesquisa, debates, seminários e projetos editoriais.

A programação conta com exposições regulares e gratuitas que trazem ao público sempre um novo olhar sobre o acervo da instituição. As mostras são acompanhadas de atividades paralelas, com o intuito de dar suporte ao debate da arte contemporânea. A Fundação dispõe ainda de um rico acervo documental sobre arte contemporânea, aberto à pesquisa pública em seu Centro de Documentação e Pesquisa, na região central de Porto Alegre.

Em Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre, estão localizadas a Sala dos Pomares, um prédio de 400 m², construído especialmente para abrigar a programação de exposições e atividades e a reserva técnica que abriga o acervo da instituição.

A sede

A sede da FVCB está localizada em Viamão-RS, a 22 Km de Porto Alegre. É formada pela Sala dos Pomares, um prédio de 400 m², com áreas expositivas, sala multiuso e sala de trabalho, projetado especialmente para receber a programação de atividades e pela Reserva Técnica, aonde está guardado o acervo de obras.

Em Porto Alegre, estão localizados a Administração e o Centro de Documentação e Pesquisa, aberto ao público desde 2008, quando aumentou sua coleção, através da aquisição de livros e catálogos e iniciou um processo de intercâmbio com outros centros de pesquisa do Brasil e do exterior.

Vera Chaves Barcellos

Vera Chaves Barcellos nasceu em Porto Alegre, RS, Brasil, em 1938. Nos anos 60, dedicou-se à gravura depois de estudos na Inglaterra e Holanda. Em 1975, foi bolsista do British Council, no Croydon College em Londres, estudando fotografia e sua aplicação em técnicas gráficas. Em 1976, participou da Bienal de Veneza com o trabalho Testarte. Está entre os fundadores do Nervo Óptico (1976-78) e do Espaço N.O. (1979-82), e também da galeria Obra Aberta (1999-2002), atuantes no sul do Brasil.

Realizou inúmeras exposições individuais no Brasil e no exterior; participou de quatro Bienais de SP e exposições coletivas na América Latina, Alemanha, Bélgica, Coréia, França, Holanda, Inglaterra, Japão, Estados Unidos e Austrália.

Como artista convidada, participou da exposição Cegueses no Museu de Arte de Girona e do Panorama de Arte Brasileira em SP (1997), do Salão Nacional do RJ e da exposição Pasaje de Ida, na Galeria Antonio de Barnola, Barcelona, Território Expandido no SESC Pompéia, SP (2000) e Sem Fronteiras, mostra de abertura do Santander Cultural, em Porto Alegre (2001), onde mostra sua instalação Visitant Genet,

Entre suas exposições, a partir do ano 2000, individuais estão: Visitant Genet no Museu D´Art de Girona (2000) e Le Revers de Rêveur na Capela de San Roc, em Valls, (2003), ambas na Espanha, e Enigmas, FVCB, Porto Alegre, (2005). Em 2007, realizou uma grande mostra antológica – O Grão da Imagem – realizada no Santander Cultural, em Porto Alegre, Brasil. Essa mostra contou com curadoria triple de Agnaldo Farias, Fernando Cocchiarale e Moacir dos Anjos.

Participou da V Bienal de Artes Visuais do Mercosul, Porto Alegre (2005) e da mostra MAM na Oca, Arte Brasileira do Acervo do MAM, São Paulo, (2006).

Com curadoria de Glória Ferreira, faz uma grande mostra abrangente de sua trajetória denominada Imagens em Migração, no MASP, São Paulo, em 2009.

No mesmo ano, tem publicou o livro Vera Chaves Barcellos- Obras Incompletas (Editora Zouk) sobre sua obra, analisada em detalhes num extenso texto do filósofo francês especializado no estudo da imagem fotográfica contemporânea, François Soulages.

Desde a década de oitenta, realiza instalações multimídia, empregando, além da fotografia, outros meios. Instituiu uma fundação que leva seu nome, dedicada à divulgação da arte contemporânea (2004). Vive e trabalha em Viamão, RS, Brasil, mantendo também seu estúdio em Barcelona, Espanha, desde 1986.