Arte Fora do Sete_Credito Annie Fernandes (10)

Espetáculo produzido pela Associação Amigos do Theatro Sete de Abril, de Pelotas, tem sessão com entrada franca no Teatro do Sesc

 

 

Porto Alegre, 03 de março de 2020 – A Associação Amigos do Theatro Sete de Abril – AmaSete chega a Porto Alegre para única apresentação do espetáculo Arte Fora do Sete no domingo, 22 de março, às 19h, no Teatro do Sesc.

Através dos sons e vozes que construíram o aparelho cultural que é o Theatro Sete de Abril de Pelotas, RS, a montagem dirigida por Diego Carvalho pretende levar o público ao desconforto como forma de apresentar o teatro como símbolo ausente. Passando por cenas que são fragmentos de uma história que ora valoriza a cultura, ora pouco se importa com ela, a peça foi idealizada como provocação aos atores e espectadores em sua relação com a cultura e com as artes, e também para com os equipamentos culturais. Presos em um ciclo de espera por um teatro que se abrirá, assim como em Esperando Godot, aguardamos por este contato com a arte que parece nunca vir. Uma peça teatral que pretende ser, como provocação, uma representação da arte “de um palco ausente” e que promova outra forma de viver e querer a arte e compreender a importância dela e da falta de espaços culturais, como o Theatro Sete de Abril, Patrimônio Histórico Nacional, coração artístico de Pelotas.

Fundada em 16 de agosto de 2012, após um período de intensas reflexões, a AmaSete se constitui em uma associação civil de promoção cultural, artística e educacional que tem por finalidade básica apoiar as atividades afins do Theatro Sete de Abril, que há dez anos está com suas portas fechadas.

Selecionado pelo edital SEDACTEL nº 26/2017 Edital de Concurso “Pró-Cultura RS FAC #JUNTOSPELACULTURA_2”, Arte Fora do Sete estreou em dezembro de 2019 em Pelotas e também passou por Jaguarão. A montagem foi desenvolvida com atores que integraram uma série de oficinas ministradas pela associação ao longo do ano, resultando no espetáculo. A dramaturgia tem assinatura de Thalles Echeverry, Direção de Dança de Daniela de Souza, Direção Musical de Sergio Sisto, Direção de Circo de Catarina Polino, Trilha Sonora assinada por Leandro Maia, cenário e figurinos de Aline Cotrim e iluminação de Diego Carvalho. A apresentação tem entrada franca com distribuição de senhas uma hora antes do espetáculo.

 

 

Crítica – Arte fora do Sete

 

Stendhal escreveu que a literatura – e pode-se estender a frase para todas as artes – é um espelho que vai passando em uma longa estrada. Ou seja, que a arte reflete o mundo em que vamos caminhando, que espelha um tempo, uma etapa da vida, uma época, uma sociedade.

Assim é a surpreendente e instigante peça teatral Arte fora do Sete. Um espelho que reflete uma situação específica – o abandono de um espaço fundamental da cultura do sul do Brasil – e, ao mesmo tempo, a imagem que reflete o descaso que a cultura em geral vem sofrendo em nosso país.

Gerações de artistas passaram por esse palco sagrado. E, como a demanda precisa da procura e vice-versa, gerações de assistentes passaram por ali também, e desses que assistiam (quando ali havia arte cotidianamente), como conseqüência lógica do que apreciavam, iam surgindo novos artistas. Eram noites e mais noites com artistas locais e da região. Havia também os consagrados, os que de longe vinham, os que serviam de parâmetros importantes para os que começavam. Porém, no mais das vezes, ali estavam os locais e regionais, os que buscavam seus espaços, por mínimos que fossem. Danças, músicas, orquestras, trupes de atores, corais, todos eles tinham no Sete de Abril um palco onde mostrar seus dons, suas maneiras de ver – e viver – o mundo.

Nada mais oportuno e importante, portanto, que essa peça escrita por dois talentosos dramaturgos, Thalles Etcheverry e Diego Carvalho – dirigida por este último.

No roteiro, eles perpassam pela questão histórica da tentativa de supressão da voz de descendentes de índios e negros e, principalmente, pela tentativa de cercear os cenários da cultura de origem popular.

Casa grande e senzala, cidade e aldeia, charqueada e quilombo, poderiam ser dicotomias expressadas pelos atores. E são. Estão nas entrelinhas dos muito bem travados diálogos. Ali está, pulsante e denunciadora, a antiga ideia dos senhores de escravos e encomiendas de calar a voz que vem do cantochão das senzalas. A sonoridade acompanhada por agogôs e atabaques, por sopapos, bongôs e treme-terras. Ali está, nas palavras e mensagens, a tão europeia e, para muitos, civilizada ideia de silenciar as milenares letanias indígenas, acompanhadas por seus erkes e sikuris, suas zampognas e maracas.

Mas quem saberá, na realidade, qual o ser mais avançado? O que transforma e destrói a natureza, ou o que se mistura a ela e a respeita como divindade? Visões de mundo. Caminhos possíveis, destruídos pela derrota da utopia, desde quando o primeiro branco aportou na América. Desde quando o primeiro negro foi escravizado.

Há um momento na peça em que os artistas saem do palco e se mesclam à platéia, e há outro em que saem para alcançar as ruas. Dois momentos marcantes e inesquecíveis. Atores e atrizes, em belíssimas atuações, exalando energia e esperança. E juventude. Juventude acima de tudo de alma, que é a que mais importa, posto que é a que faz a vida valer a pena ser vivida. Atrizes e atores gritando e cantando – se expressando – por todos os outros que não tiveram voz em cima do palco, nesses anos todos de ausência, silêncio e abandono, de um local que é a próprio coração da arte sul brasileira.

Saúdo, por fim, a todos os artistas – corajosos artistas – que participam da peça Arte fora do Sete. E que ela seja a semente que traga a arte outra vez para dentro desse teatro, em uma viagem de regresso ao lugar onde ela sempre deveria ter estado.

E, quem sabe, possa essa criação artística ser também o lampejo inicial, a chama propulsora – pequena, mas eterna – de uma nova etapa em que a arte volte a conquistar seu espaço devido: o da transmissão de conhecimentos, o da sabedoria popular, o da inteligência mais profunda de uma nação. Martim César

 

FICHA TÉCNICA

– Direção Geral: Diego Carvalho

– Assistência de Direção e Dramaturgia: Thalles Echeverry

– Direção de Dança: Daniela de Souza

– Direção de Música: Sergio Sisto

– Direção de Circo: Catarina Polino

– Criação de Trilha Musical: Leandro Maia

– Cenário e Figurinos: Aline Cotrim

– Iluminação: Diego Carvalho

– Elenco: Alex Gomes Ferreira, Alice Buchweitz, BiancaOliveira da Silva, Brenda Seneme, Daiana Gonçalves Molina, Evelin Cristine, Suchard Aires, Gustavo Teixeira Duarte, Iago de Mattos Lima, Irruan Pereira Nunes, Isabela Petry, João Vitor Soares, Julia Moreira de Ávila, Kelvin Moraes, Larielly Donini Gonçalves, Manuela Tatiana Garcia, Maria Beatriz Borges Conceição, Murilo Sponton Peres, Naiane Ribeiro Rosa, Patrícia Cristina Perote do Nascimento, Thalles Echeverry e Victor Santiago da Cunha.

– Suplentes: Bárbara Scola Lopes da Cunha, Jefferson Perleberg Rubira e Josué Kuhn Völz.

 

Sobre a AMASETE

Fundada em 16 de agosto de 2012, após um período de intensas reflexões, a Associação Amigos do Theatro Sete de Abril – AmaSete, pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos e sem qualquer vínculo com poder público ou partido político, se constitui em uma associação civil de promoção cultural, artística e educacional que tem por finalidade básica apoiar as atividades afins do Theatro Sete de Abril.

Reúne no seu interior artistas e ativistas culturais, além de gestores de patrimônio cultural, que têm lutado arduamente pelo desenvolvimento da cultura na cidade de Pelotas/RS e que, como sociedade civil organizada, quer continuar presente na vida e história do Sete de Abril.

O ponto de partida é o próprio Theatro Sete de Abril, que desde 15 março de 2010 está com suas portas fechadas. Inaugurado em 2 de dezembro de 1833 – completa 180 anos em 2013 – e elevado à patrimônio cultural do Brasil em 1972, o Sete, como carinhosamente é chamado pela comunidade, é símbolo cultural no espaço onde está inserido.

Desde sua instalação e apresentação pública, em 19 de dezembro de 2012, a AmaSete estabeleceu parcerias culturais e institucionais com diversos artistas, companhias e instituições, como a Bibliotheca Pública Pelotense, Caixa Econômica Federal, Centro Contemporâneo Berê Fuhro Souto, Moviola Filmes, RBS TV – Seção Pelotas/RS e Secretaria Municipal de Cultural de Pelotas. Realizou e promoveu conjuntamente diversas atividades artísticas e culturais. Fazem parte de sua ação cultural os eventos “Saudade dos aplausos no Sete de Abril”, apoio ao projeto Sete ao Entardecer, Dança Fora de Si, Aplausos Fora do Sete e Dia do Patrimônio Pelotas/RS, com atividade de Educação Patrimonial, Cortejo Cultural 2014 e 2015 e em 2015 a realização da 1ª Mostra de Dança- AmaSete, Audiências Publicas em defesa das obras de restauro Theatro, entre outras não menos importantes atividades culturais.

 

Arte Fora do sete

Domingo, 22 de março, 19h

Teatro do SESC – Av. Alberto Bins, 665

ENTRADA FRANCA – RETIRADA DE SENHAS uma hora antes do espetáculo